Última atualização 21/02/2020
Por Wladimir Matos
Educador Musical
Vou aqui destrinchar esse belo instrumento, o violão, para que possa, visualizar cada parte que o compõe e suas funções. É de primordial importância identificar suas divisões para uma melhor experiência com o instrumento. Assim, como o soldado deve conhecer o seu fuzil, manuseá-lo e desmonta-lo. O músico deve conhecer seu instrumento. Somente assim, ampliará sua intimidade com ele, e o tornará parte corpórea do seu ser.
Sim, o violão tem que se tornar parte do seu corpo para que possa dominá-lo. É o que digo sempre aos meus alunos. Mas, não vou me estender nesse assunto agora... sigamos em frente.
Quando passamos a entender o instrumento, suas funções e possibilidades, desfrutamos melhor dessa prática e maravilhosa sensação que é tocar um violão. Com consciência, das infinitas possibilidades, que poderá alcançar, dentro dos limites, que o instrumento pode oferecer.
Inicialmente seccionarei o violão em três grandes partes: Corpo, Braço e Mão.
Agora vamos estudar cada uma delas !
1- CORPO
O corpo do violão é o responsável pela acústica. Ou seja, é uma caixa de ressonância.
O tamanho da caixa acústica influencia no som, se a caixa for muito larga, o som produzido tende a ser mais grave e ter menor definição se comparada a uma caixa mais fina. Entretanto, existem outros fatores que influenciam na sonoridade, como o material e a sua anatomia, por exemplo.
1.1- Tampo, Lateral e Fundo.
Num violão de boa qualidade, estas partes são feitas em madeira maciça.
O Tampo é a parte da frente do corpo do instrumento. Na verdade é uma placa sonora, feita com uma madeira mais leve que as as madeiras usadas no fundo e lateral. Para oferecer melhor transmissão sonora, este efeito de amplificação acústica. A madeira preferencial para o tampo é o cedro, mas várias outras madeiras podem ser usadas. Os melhores instrumentos são obtidos de árvores com pelo menos 200 anos, que possuem veios praticamente paralelos.
A Lateral é a faixa de madeira que envolve o corpo do violão. Feitas de madeiras resistentes à tração. A madeira preferida para esta parte do corpo é o jacarandá da Bahia. Como esta árvore está em risco de extinção, apenas luthiers que possuem estoques antigos utilizam essa madeira. Uma alternativa é o jacarandá da Índia, também chamado Rosewood. Também pode ser usado o mogno ou algumas outras madeiras. As finas lâminas, de no máximo 3 mm de espessura e com cerca de 10 cm de largura, são molhadas e moldadas no formato desejado do instrumento (normalmente no formato aproximado de um 8) com a ajuda de moldes de madeira e grampos. Após alguns dias as faixas adquirem a forma definitivamente.
O Fundo é a parte de trás do corpo do violão. Construído da mesma madeira que as faixas, é uma lâmina fina de madeira, cortada para preencher exatamente o contorno definido pelas faixas.
1.2- Filetes e Mosaico
Os Filetes são pequenas molduras chatas e retilíneas que fazem o acabamento do fundo e do tampo com as laterais.
O Mosaico, também conhecido como Roseta, também serve como acabamento e proteção das bordas ao redor da abertura do corpo do violão, chamado de boca. O desenho utilizado é característico de cada fabricante e/ou luthier.
1.3- Boca.
A Boca é uma abertura que fica aproximadamente no centro do tampo, e serve para permitir a passagem do ar em vibração. Capta a vibração das cordas e devolvem o som que foi ampliado na caixa de ressonância.
Lembrando que ao redor da boca existe o mosaico.
Outro detalhe: geralmente violões com uma boca menor produz um som mais agudo se comparado a um violão com uma boca maior.
1.4- Cavalete e Rastilho
O cavalete ou ponte é uma pequena peça geralmente de madeira posicionada na parte de baixo da caixa acústica. É confeccionado com outros materiais, como por exemplo plástico, que interferem na qualidade do som.
Sua função é fixar, prender uma das extremidades das cordas através de seus orifícios. Podendo ser amarradas na estrutura (quando cordas de nylon), ou presas por pinos (quando cordas de aço).
O rastilho fica encaixada sobre o cavalete. Tem a função de definir a altura (distância) das cordas em relação ao corpo e a escala. Podem ser feitas de plástico, metal ou osso.
Tanto o cavalete quanto o rastilho podem ser trocados, caso apresentem algum defeito. Mas tome cuidado ao fazer isso em casa, um rastilho mal posicionado pode prejudicar a afinação e o timbre do instrumento. Um rastilho muito alto deixará as cordas distantes do braço, dificultando a execução. O desafio aqui é chegar em uma altura ideal para que fique confortável e, ao mesmo tempo, não perca muito em sonoridade.
Sempre que notar algum defeito no cavalete ou precisar de troca ou ajuste no rastilho procure um Luthier.
1.5- Encordoamento
Normalmente os violões clássicos tradicionais possuem seis cordas, que podem ser de nylon ou de aço.
São nomeadas e numeradas da mais aguda (fina) para a mais grave (grossa):
1- Mi (apelidada de mizinha),
2- Si,
3- Sol,
4- Ré,
5- Lá,
6- Mi (apelidada de mizão).
Observe que as cordas com o tempo tendem a oxidar, é importante trocá-las periodicamente. Mantê-las limpas também é necessário. Para isso basta passar um pano limpo e seco, como uma flanela em toda a sua extensão sempre depois que tocar por muito tempo. Da mão até ponte. Esse procedimento tirará o suor dos seus dedos e a poeira que prejudicam a corda. Existem no mercado produtos específicos que ajudam na limpeza como os das figuras abaixo:
2- BRAÇOO Braço é a parte longa, "que sai do corpo do violão". Composta por:
2.1- Braço:
O braço propriamente dito é feito de um único pedaço de madeira, em mogno, maple, nogueira ou cedro.
2.2- Tróculo
Fica atrás do braço colado ao corpo. E sua função é essa: ligá-lo ao corpo criando uma sustentação.
É a parte responsável por fixar o braço no corpo. Normalmente é feito junto com o braço (uma única peça), mas nada impede de ser feito separadamente e depois colado.
2.3- Tensor
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Tensor com ajuste pela boca. |
Dentro do braço do violão há um tensor, principalmente nos violões de cordas de aço, que nada mais é do que uma peça de metal ou madeira mais rígida que controla a envergadura do braço de acordo com a tensão da corda. Ele ocupa toda a extensão do braço, da sua junção no tróculo com o corpo até a mão (cabeça).
Assim, sua principal função é compensar a tensão no braço de maneira contrária à ação das cordas evitando que o braço empene, regulando a distância da corda e a escala. Famosa regulagem: "baixar cordas altas".
Violões com cordas muito altas são mais “duros” para fazer os acordes (mão esquerda). Pois é preciso imprimir uma pressão muito grande nas cordas para que se possa conseguir um bom som.
Em contrapartida, violões com cordas muito baixas tem maior possibilidade de trastejamento. Aquele som indesejado que faz quando tocamos, parecido com o som de lata batendo. É o som das cordas encostando nos trastes produzindo um som metálico (tremido).
O ajuste do tensor é para encontrar esse equilíbrio entre sonoridade e conforto, para o violonista. O Luthier é o especialista para fazer esses ajustes.
2.4- Escala
Escala é a parte frontal (do braço). Essa placa de madeira, dura e bem fina, de cor (mais clara ou escura), diferente que a do braço. Pode ser de vários materiais como: ébano, pau-rosa ou maple.
O tamanho dessa escala influencia diretamente no som do violão. Quanto maior a escala, maior a tensão das cordas, logo o som do violão tende a ficar mais alto e agudo. Quanto menor a escala, menor será a tensão nas cordas, e o som tende a ficar um pouco mais grave.
LIMPEZA: Da mesma forma que é importante manter as cordas limpas, a escala que por sua vez também está diretamente em contato com nossos dedos precisa ser limpa. Um pano seco já ajuda. Ou sempre que retirar as cordas aproveitar a ocasião para limpar e lubrificar a escala. Para isso existem no mercado produtos específicos para cada tipo de madeira da escala. Tais como esses da figura abaixo:
2.5- Pestana
Conhecida também como NUT ou traste zero, cuja função é garantir uma boa afinação. É essa peça pequena feita de vários materiais os quais vamos citar alguns agora:
- Marfin, fabricado a partir da presa de elefantes, claro que a anos sua fabricação foi proibida mundialmente.
- Osso Bovino, também conhecido como “bone”, substituto do Marfin;
- Plástico, uma peça de reposição comum muito utilizada no mercado;
- Grafite, usada para diminuir o atrito das vibrações das cordas e manter a afinação do instrumento por mais tempo.
- Latão, de Liga de Cobre e Zinco, para que o timbre fique mais “metalizado”.
- Micarta, osso sintético. Sua aparência é muito parecida com o de Marfim, uma cor fosca e amarelada. Esse é um material bem maleável ao lixamento;
A pestana é ajustável, pois precisa estar na altura correta (distância entre a escala e as cordas) para facilitar a digitação das notas. A sua boa regulagem evita sons indesejados.
Se mal instalada ou preparada de maneira incorreta pode gerar: desafinações constantes, quebras de cordas, instabilidade e impossibilidade de regulagem das oitavas, trastejamento (quando as cordas encostam nos trastes e emitem um som metálico tremido que incomoda).
Essa peça também é substituível. E se apresentar algum defeito é possível troca-la. Recomenda-se procurar um profissional especializado em violões, o Luthier, para que faça os ajustes necessários.
2.6- Trastes
Trastes são essas barras em metal (podendo ser puras ou misturadas entre si: cobre, zinco, níquel, zinco, chumbo e cádmio em sua maioria).
Elas dão suporte e encurtam o comprimento de vibração da corda. Sua quantidade varia conforme o modelo do violão, podem ter 19 a 22 trastes (às vezes mais).
Os trastes dividem o braço em casas, indo das notas mais graves para as mais agudas.
2.7- Casas
É o espaço entre os trastes, como vimos anteriormente.
Cada espaço representa um meio tom.
É nesse espaço que colocamos os dedos da mão esquerda para executarmos as notas ou acordes. Para evitar que o executante tenha que fazer esforço desnecessário, utilize os dedos sempre perto do traste direito da casa (sempre no traste mais próximo da boca e não o dá mão). E nunca em cima do traste, onde o som sai sujo. O número de casas é geralmente 19 ou 22 no total.
Depois da casa 12 o padrão das notas se repete, isto é, as notas são as mesmas.
2.8- Botões
Os botões ou Marcadores de casa, são indicadores que facilitam a localização da nota na escala.
Geralmente são encontradas nas casas 5, 7, 9, e 12, estes pontos de localização podem ser colocados na frente da escala, na parte superior do braço e ainda em ambos ou simplesmente não existirem.
3- MÃO
A mão do violão também é chamada de cabeça e de headstock. É a parte de cima do instrumento. É nela que, normalmente, são gravadas as marcas dos violões.
3.1- Tarraxas
As Tarraxas apelidadas de "borboletinhas" ficam na mão (eu as chamo de dedinhos) e permitem afinar o violão.
Cada tarraxa ao ser girada para um lado ou para outro (apertando ou soltando) tensionará acorda correspondente para afinação.
Elas podem ser feitas de plástico ou metal. As tarraxas de metal são as mais usadas por violões com cordas de aço, devido a tensão poder cortar o plástico.
Essa é uma peça de substituição se apresentar problemas poderá ser trocada, com muita facilidade, ou poderá procurar um especialista o Luthier, para fazê-lo.
Lembra que no início dessa postagem eu comentei que para um músico ter uma boa performance no instrumento é preciso ter conhecimento profundo de todas as suas partes? Assim, como o soldado conhece a sua arma?
Pois então, isso é necessário para que você possa transmitir sentimento na hora da sua apresentação. É preciso conhecer os limites e as possibilidades do instrumento, assim como você conhece a palma da sua mão. Na verdade, é preciso que ele se torne a continuação de suas mãos e braços, e repercuta as batidas do seu coração.
Código da postagem: 1008